[FP] Erkin Savas

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Mensagem por Erkin Savas Sex maio 27, 2016 5:38 pm

 
 
Solteiro
Humano
George Karavas
Akçkale - Turquia
28
Erk
18
Carlos Melo
Nome Completo: Erkin Savas Personalidade: Erkin sempre passara maior parte do dia com o cenho franzido, pensativo ou concentrado em algo, parte por seu infeliz vício em ansiar por coisas que ainda não aconteceram como também por sua incapacidade de parar de imaginar como as coisas seriam se ele houvesse feito de outra forma. Costumava valorizar bastante as coisas que aparentam ser importante, como aparência e opiniões, saúde e uma boa situação financeira. Nunca teve grandes sonhos ou solo para sequer plantar grandes aspirações. Era fiel ao seu povo e ao deus do seus pais. Serviria ao exército com honra e traria ao seu nome a glória de morrer pela palavra dos seus líderes. E no fundo todos nascemos assim ou somos condicionados a sê-lo. E assim somos até deixarmos de ser. Erkin não mais se importa com o futuro, com estética ou pedaços de papel. Erkin não mais morreria por seu povo, ou por motivo algum além de simplesmente o ato supervalorizado de morrer. Erkin renegou o deus de seus pais e a voz dos seus líderes. Deixou de ser, de ver, de saber, de falar. Passou a viver. A vida o tirou tudo e a morte o pôs no mundo.
História: Contar a história de Erkin Savas é contar um conto curto e simples sobre a história de qualquer um. Ele nasceu no sangue e cresceu no laço de um abraço, correu por um campo enquanto chovia e derramou lágrimas quando feriu o joelho. Antes disso? Antes ele também havia nascido em sangue, mas no sangue da sua mãe e não do seu amigo. Antes disso ele também cresceu no laço de um abraço, mas no do seus pais e não da sua verdadeira família. Ele também correu por um campo, mas um campo de grama e não de ossos, um campo que chovia água e não cinzas, e o ferimento em seu joelho não custou-lhe tudo o que havia construído. Fora só um arranhão. Só havia tropeçado em uma pedra e logo seus pais vieram em seu socorro. Seu pai, severo por trás de sua longa barba branca de um praticante fervoroso da fé islâmica, de sorriso mole diante do filho que era seu orgulho, e sua mãe, de hijab claro como qualquer mulher conservadora em uma nação de revoluções, com os braços abertos para acolher a criança em prantos. Mas quando caiu a segunda vez, Erkin não viu seus pais, não ali, não ao seus meros 27 anos. Ele olhou em volta e procurou a grama verde, mas viu asfalto pintado de vermelho. Viu braços abertos, mas não de sua mãe, das mães de outros cujo qual as entranhas pintavam o solo. Não viu seu velho, viu soldados que ele lutou ao lado durante grande parte da sua vida, desde que se alistou aos 15 anos, a mando do seu pai. Por que não o faria? Era uma oportunidade para trazer honra para sua família e fazer algo pelo seu povo e seu deus. Olhou pro alto, arrastando-se nos destroços, e não viu seu deus. Viu rastros da fumaça do fogo de morteiros. E deitado ali, ao lado do corpo da pessoa mais importante em sua vida, Erkin nasceu pela segunda vez. E como todo nascimento perseguido por uma morte, ele viu sua antiga vida passar em instantes.
A camaradagem do seu batalhão no exército, um batalhão que ele fez parte por tantos anos que mal pode acreditar quando tornou-se líder dele. As tantas vezes que lutaram ferozmente pelo destino do seu país e seu deus, e as vezes que leu emocionado as cartas do seus pais. Voltou a lê-las novamente quando a Síria bombardeou sua cidade natal e o tirou deles, e pensou naquele dia em como seus inimigos não sabiam que a cada amigo que dele tiravam, mais forte ele os atacaria. Viu seus anos passarem rápidos, e, estranhou quando não conseguiu recuperar nenhuma memória além de guerra e morte. Companheiros assassinados e adversários trazidos à justiça da bala. Não sorriu quando um avião cruzou os céus da rua em chamas, como sorriria ao sinal de tais reforços, apenas virou para o lado e encarou o rosto sem vida do seu amigo. Por um momento sentiu pânico, sentiu um medo irracional quando percebeu que não conseguia trazer à boca o nome de seu amigo. Teria esquecido? Estava com ele agora a pouco, lado a lado, sentados enquanto planejavam uma vida nas Américas ao fim da guerra contra a Síria. Erkin forçou a mente e lembrou de quando o viu pela primeira vez, com suas vestes exageradas para um fotógrafo de guerra da Nova Orleans, terra que Erkin considerava de um povo manso que não sabia o que se passava ali na Turquia. Passou a chama-lo desde então de fotógrafo manso, e disso não podia esquecer. Tentou sorrir e estranhou quando percebeu seu rosto dormente. O olhar vítreo e sem vida de seu amigo recordou-lhe de sua responsabilidade, de como foi dado a ele a missão de manter o fotógrafo seguro em seu primeiro trabalho registrando as atrocidades dos sírios em campo. Fez um bom trabalho e com o tempo, tornaram-se mais do que companheiros de trabalho. Erkin chegava até a fazer algumas poses durante as fotos para climatizar melhor para seu amigo. Trabalhavam sorrindo, mas Erkin nunca deixou de ver quando o fotógrafo manso acordava de seus pesadelos durante a noite. Erkin também tinha eles, e os dois bebiam juntos até dormir de novo. Foi aos 24 anos que conheceu ele, aos 24 anos que a Síria matou seus pais. Não parecia ter passado tanto tempo desde então, e agora, pela primeira vez, quando esticou sua mão coberta de fuligem e encostou nos cabelos de seu amigo, percebeu que não foram tempos de ouro. Foram de cinzas. Olhou pro céu novamente e finalmente chorou. Não conseguia lembrar o nome dele, e nem o de si mesmo.

Erkin Savas foi dispensado do exército devido ao trauma que presenciou no ataque do seu próprio povo em Zur Maghar, cidade síria na fronteira com a Turquia. Estava de licença com seu amigo, mas voltou sozinho para seu país. Os dias passaram como cenas de um filme que assistimos quando crianças e apenas algumas cenas remanescem em nossa memória. Foi só quando encostou os dedos na carta que seu amigo deixara antes de morrer que conseguiu despertar parte de sua mente.

"Erk, eu sei que diria que estou sendo mais manso que o normal por deixar uma carta dessas, e eu tenho certeza que você acabou de achar agora e está rachando de rir e não vê a hora de vir me falar em como eu não deveria me preocupar sobre morrer, porque isso só acontece com eles e nunca conosco. Mas eu tenho esse medo, meu amigo, e nem você nem ninguém consegue tirá-lo de mim, por mais que insista que seu deus poderia curá-lo. Eu simplesmente não consigo aceitar a ideia da inexistência, apesar dela ser mais palpável para mim do que seu paraíso. Mas se por acaso você não puder vir rir de mim ou começar nossos longos debates existenciais, se por acaso suas lágrimas não sejam de divertimento e sim de luto, é porque eu estava certo e esta carta é um testamento. Meu amigo, eu sinto muito, mas a morte vem a todos uma hora. Não se entristeça por mim ou por meus sonhos nunca concretizados, pois eles tem uma certa beleza onde estão, enterrados nos negativos das minhas fotografias, plenos na ideia de que poderão ser repassados para as gerações futuras. Eu fui o que tinha que ser, meu amigo, mas eu acho que você ainda não foi. Nunca conheceu o carinho de uma mulher ou o leve roçar frio da neve em sua pele, nem nunca viu o mar como eu vi, nas cores que eu vi, cores pintadas pelo vento usando as nuvens, usando o sol e o céu. Por isso, se eu não estiver do seu lado agora, envergonhado por você ter encontrado esta carta, então, meu amigo, saiba que eu sou agora, como tudo o que há, parte de você. Seja tudo o que você pode ser, e só assim poderá viver por mim e, mais importante ainda, por você. Todos os meus bens e conquistas são seus agora, você vai encontrar a chave do meu apartamento em Nova Orleans na base dessa carta. Tome a decisão certa, meu amigo. - Adam."

Adam. O nome ressoou pela cabeça de Erkin. Lembrava do seu nome. Limpou as lágrimas e fez as malas.
Erkin Savas
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Data de inscrição : 27/05/2016
Erkin SavasNovatos

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